Um dos mais graves erros de julgamento é premiar um campeão que não seja natural no marchar. Lamentavelmente, este erro vem ocorrendo repetidamente, nas principais exposições de equideos marchadores – raças Mangalarga Marchador, Campolina, jumentos e muares Pêga.
Os Padrões Raciais de todas estas associações definem claramente os pré-requisitos da dissociação e da ocorrência de triplices apoios:
MANGALARGA MARCHADOR – Marcha batida ou picada – é o andamento natural, simétrico, a quatro tempos, com apoios alternados dos bípedes laterais e diagonais, intercalados por momentos de tríplice apoio.
CAMPOLINA – “Marcha natural com deslocamentos nitidamente dissociados e tríplices apoios definidos, cômoda, elegante, regular e desenvolta.” A dissociação é oficialmente definida como sendo “a movimentação dos quatro membros em momentos diferentes, de forma rítmica e cadenciada, resultando na ocorrência dos diferentes apoios laterais, diagonais e tríplices, permitindo a manutenção do animal sempre em contato com o solo durante sua locomoção, condição básica para que ocorram os tríplices apoios.” A comodidade é definida como sendo”a qualidade do andamento pela qual os movimentos do animal não transmitem atritos e abalos ao cavaleiro.”
PÊGA - Marcha de tríplice apoio natural, espontânea, avante, picada ou batida, com deslocamentos alternados dos bípedes em lateral e em diagonal.
A primeira pergunta: Se os Padrões Raciais não deixam dúvidas quanto à essência do diagrama marchado – dissociação resultante da alternância entre apoios duplos diagonais e laterais, intercalados por momentos de triplices apoios -, surge a pergunta que “está na boca” da maioria dos criadores e usuários - Por que os árbitros premiam campeões portadores da marcha batida diagonalizada, marcha trotada e ou trote???
A segunda pergunta: Se os antigos criadores do século XX priorizavam a comodidade, por que a marcha batida do século XXI não apresenta a mesma qualidade no quesito comodidade??? Ressalva – em se tratando de cavalos e muares cuja principal utilidade é em passeios e cavalgadas, indubitavelmente a comodidade é o parâmetro de maior valor no contexto da avaliação qualitativa da marcha em julgamentos.
As respostas são variadas:
– má interpretação do Padrão Racial, por desconhecimento do próprio árbitro, ou por orientação que tenha recebido do técnico responsavel pelos cursos de reciclagem e formação de árbitros;
- pouca importância dada ao Padrão Racial, que é o instrumento maior do aprimoramento genético de uma raça;
- falta de conhecimento da marcha batida clássica, original das raças brasileiras de equideos marchadores. Muitos árbitros, em especial os novatos, sem berço na antiga seleção de equideos marchadores, deveriam assistir, repetidamente, videos de autênticos marchadores, representativos da marcha batida clássica;
- modismos, que surgem de tempos em tempos, por questões comerciais e politicas. Quem segue moda não tem opinião própria;
- influências de outras raças, em especial da Mangalarga Marchador, que é a principal raça. Brasileiro adora copiar, sem apurar, estudar. O resultado pode ser uma “cópia falsificada”, a exemplo de todos os andamentos limitrofes ao trote convencional.
A solução é introduzir nos regulamentos de julgamento do andamento um novo quesito – NATURALIDADE. Todos os animais seriam obrigados a executarem testes de naturalidades da marcha, que podem ser os seguintes:
Transição passo/marcha – o cavaleiro deve relaxar os comandos de rédeas, pressão de pernas e assento, solicitando uma transição suave do passo relaxado para a marcha de velocidade baixa. A marcha pura nada mais é do que o passo em média ou alta velocidade. Se for notada diagonalidade excessiva, será marcha batida diagonalizada. Se a diagonalidade excessiva for acompanhada por elevação e flexão exageradas dos membros anteriores e posteriores será marcha trotada. Se a diagonalidade excessive for acompanhada por momentos de suspensão será trote convencional.
Tablado – se as batidas dos cascos forem escutadas duas a duas será indicativo de andamentos limitrofes ao trote convencional. O animal deve marchar sobre o tablado sem interferência de equitação, ou seja, sem reunião de rédeas, pressão de pernas ou pressão de assento.
Analoc E – Computador Analisador da Marcha – Este é o teste mais preciso, há mais de dez anos disponibilizado para as associações brasileiras de equideos marchadores. Infelizmente, por questoes meramente politicas, esta moderna tecnologia ainda não foi adotada nos julgamentos de andamento.
Câmera fotográfica digital – Na dúvida, o árbitro pode tirar fotos sequencias, que comprovarão o grau da dissociação. Exemplo: Se o par diagonal de membros estiver deslocamento na mesma fase (elevação ou avanço), em um mesmo intervalo de tempo, será marcha batida diagonalizada, marcha trotada ou trote convencional.
O fato é que a riqueza da equinocultura brasileira de marcha vem sendo empobrecida com os andamentos bastardos, ou seja, sem pureza genética. Anualmente, centenas de animais vêm sendo premiados como campeões, mesmo não sendo portadores de marcha tipica, seja porque o DNA carrega os genes do trote, ou porque o treinamento focou na diagonalidade do andamento. Milhares de compradores vem sendo enganados em compras de animais não autênticos de marcha, ou de marcha ensinada, a qual não será transmitida de geração a geração.
O momento é de reflexão profunda, quanto ao mal que a marcha batida diagonalizada, bem como outras modalidades de andamentos limitrofes ao trote convencional, estão fazendo ao aprimoramento zootécnico.
*Lúcio Sérgio de Andrade – Zootecnista, escritor, árbitro de equideos marchadores, Pedidos de livros impressos, livros digitais em CD, DVD’s, CURSOS ONLINE, equipamento para doma e treinamento de cavalos marchadores, através do site www.equicenterpublicacoes.com.br
|